FERNANDO MARQUES
Jornalista, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília com a dissertação A Comicidade da Desilusão – O Humor nas tragédias cariocas de Nelson Rodrigues.
Compositor e tradutor, verteu para o português canções dos irmãos Gershswin, apresentadas no show "Meus Irmãos Gershwin", em 1994.
GÁRGULA – Revista de Literatura. No. 1 - Brasília, 1997. [Instituto Camões. Impressão: Thesaurus Editora]
Ex. bibl. Antonio Miranda
Quatro poemas
COMO O VIOLINISTA PASSA,
lânguido,
o arco sobre a corda
(longas notas),
roçar a lâmina no pulso
sem escândalo:
olhos alheios ausentes,
morrer suavemente
LABORIOSO
"uma semente engravidava a tarde",
dirá Drummond, do fundo de quem diz.
não tem amor aquele que, covarde,
amor não faz, mas torna o verde gris.
e se talvez alguém negasse à carne
a mesma carne, a dor demais feliz,
seria amor a luz a se apagar,
a luz que o sono fez calar, ou fiz.
e se obscuro já não quer cantar
o texto que esta letra contradiz,
a só semente engravidava a tarde
inutilmente se ninguém a quis.
DAR O NOME À COISA
bicho, planta, margem,
eu te batizo
gente, árvore
saber que ao dar o nome
opera-se uma soma,
coisa-nome agora
essa que terceira,
anônima se forma
traz em si o homem
na língua que a chamara
DUO
O poema – por que não? — cabe numa folha de papel
Surge numa folha de jornal
de ontem
Numa nuvem alta
paira
Onde quer que o crave, branca
arma
a onipresença
suave
Gera o torvelinho de palavras
— idéias, que se anclam
como dedos, rolam
como dados
Delas emerge, plena luz
— metáfora
O tema o poema
pois me flagro
falando realmente do poeta
— onde o poema realiza seu trabalho
O de responsável
pela gripe
lírica
que gesta
o ato
É simplesmente grafá-lo
*
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Página publicada em maio de 2021
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